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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Não ao terceiro turno 01/11/2010

01/11/2010 - Editorial Brasília Confidencial

Parcela minoritária e barulhenta de derrotados nas urnas reagiu ao resultado da disputa pela Presidência da República como se fosse passível de desmerecimento, contestação e enfrentamento a decisão majoritária de tornar Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula. Essa parcela reagiu, enfim, como quem inaugura ou pretende inaugurar uma espécie de terceiro turno imprevisto pela legislação, indesejado pela população, insultuoso ao eleitorado e improdutivo para o país.

A ideia de iniciar um terceiro turno se evidencia na edição de ontem dos principais diários impressos do país. Começa na informação de que, antes mesmo de começar, o Governo Dilma já vive sua primeira crise causada pela presença explícita ou pela sombra ameaçadora de Lula, que seria candidato à Presidência em 2014. O terceiro turno se insinua também entre o receio de que Lula interfira no governo, tutelando Dilma, e o medo de que não faça isso e deixe o caminho livre para a hegemonia da esquerda do PT. É deflagrado também, o terceiro turno, no pavor provocado pela maioria de praticamente três quintos no Congresso, que poderia dar a Dilma força suficiente para legislar conforme bem quisesse.

O segmento da mídia que orienta os partidos de oposição participa da tentativa de inaugurar o terceiro turno com o mesmo método jornalístico adotado desde o primeiro semestre do ano passado: textos, comentários, notas e artigos que depreciam Dilma tentando reduzí-la a uma figura influenciável e manipulável. Desmereceram a candidata, agora desmerecem a presidente eleita e, desde já, seu futuro governo.

A motivação da imprensa aliada aos partidos de oposição antecede a ideia de golpe. Os jornais acreditam representar o pedaço do Brasil que rejeitou Dilma.

Dilma foi eleita pelo Brasil setentrional. A oposição é o Brasil meridional. É verdade que Dilma fez muito mais votos na parte Sul do que Serra obteve na parte Norte. Mas ela perdeu entre os ‘sulistas ou ‘confederados’, que formam o Brasil da mídia. O Brasil de Dilma é o Brasil sem mídia. E o terceiro turno é, a par de um desejo de facções partidárias oposicionistas, uma tentativa da imprensa mais poderosa do Brasil meridional de expulsar para o Brasil setentrional a candidata e futura presidente dos pobres, dos excluídos, dos desvalidos, dos discriminados, dos trabalhadores, da classe operária.

Até aqui, Dilma mostrou que é muito maior do que se dizia dela no início da campanha. Mostrou que é capaz de traduzir perfeitamente a ideia da eficiência e da continuidade de um projeto bem sucedido e aprovado. Venceu a campanha eleitoral mais sórdida, repugnante e infame da história republicana. Venceu uma oposição torpe e uma imprensa indecente. E, no primeiro discurso de presidente eleita, estendeu a mão aos adversários propondo trabalho e união pelo país.

A deflagração do terceiro turno para o período 2011/2014 equivale ao anúncio de, no mínimo, mais de 1.400 dias de campanha e de confronto. Com certeza, não é o que quer e muito menos é de que precisa o povo do Brasil.

The Youngbloods - Get Together

Eleita por mais de 55 milhões, Dilma promete “honrar a confiança” e “governar para todos” 01/11/2010

Brasília Confidencial


Pela primeira vez na história do Brasil, a partir de 1º de janeiro de 2011 a Presidência da República será exercida por uma mulher. Dilma Vana Rousseff Linhares, mãe e avó com 62 anos de idade, natural de Belo Horizonte (MG); guerrilheira presa, torturada e mantida na cadeia durante três anos pela ditadura militar; economista; secretária municipal em Porto Alegre; secretária estadual no Rio Grande do Sul; ministra de Minas e Energia e da Casa Civil da Presidência; candidata indicada ao PT pelo presidente Lula e estreante em disputas eleitorais, foi eleita ontem por mais de 55,7 milhões de brasileiros e brasileiras para suceder o presidente Lula. Dilma venceu José Serra (PSDB), candidato das oposições ao atual governo, por diferença superior a 12 milhões de votos.

A vitória da candidata do PT e de mais nove partidos, obtida contra um oponente que acumula experiências de prefeito, deputado, ministro, secretário estadual, senador, governador e, duas vezes, candidato derrotado à Presidência, foi anunciada oficialmente pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Ricardo Lewandowski, às 20h04min, quando a vantagem de Dilma já era superior ao número de votos que faltava apurar. Fechadas as contas ao fim da segunda hora de hoje, o resultado da eleição presidencial ficou assim:

Dilma Rousseff 55.751.918 (56.05%)

José Serra 43.710.381 (43.95%)

Brancos 2.452.588 (2,3%)

Nulos 4.689.293 (4,4%)

Ausentes 29.191.309 (21,5%)

Dilma venceu a eleição no Distrito Federal e em 15 estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Tocantins, Maranhão, Pará e Amapá. Seu adversário foi o candidato mais votado em São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Rondônia, Acre e Roraima.

Ainda antes de votar, em Porto Alegre, a candidata do PT anunciou que vai governar para todos com a coligação que apoiou sua candidatura.

“A minha coligação, que me trouxe até aqui, é a coligação com a qual vou governar. Vou governar para todos, conversarei com todos os brasileiros”.

À noite, confirmada sua vitória, sua primeira declaração incluiu um agradecimento e uma promessa aos eleitores:

“Prometo honrar a confiança que depositaram em mim”.

Tanta religião em pauta, estado laico, lembrei de Almodóvar

Tanta religião em pauta, estado laico, lembrei de Almodóvar

Não resisto!




CHUPA, AGRIPINO!

Musica Búlgara e Brasileira



Presidenta!




blog do planalto

Бразилия избра своята "желязна лейди" - Дилма Русеф




http://www.novinite.com/view_news.php?id=121698

Miguel Nicolelis: Uma nação só se constrói se sonhando com o impossível, com o próximo, sem se esquecer do próximo

Ouça a frase nos 1:29 minutos. Mas vale ver todos os vídeos dessa Aula da Inquietação na UnB em 2009.

Zé fazendo conta: pode ser moeda?

Aqui é Zona Sul, não é Pokemom não - Zé aposentado como zelador

O dia em que ajudei Hector Julio Páride Bernabó a amarrar um pacote

Trabalhava na época, (91), numa revista latino-americana, sobre cultura. Tinha saído da sala da redação e quando volto, vejo um senhor sentado em minha mesa. Me aproximo e ele me pergunta: Ô minha filha, empresta seu dedo para fazer o nó neste barbante.

Era um embrulho em papel pardo e pus o dedo sobre o barbante. Enquanto ele dava o nó e o laço, fui subindo o meu olhar e descobrindo quem era o sujeito. O "próprio": Carybé. Ele agradece , se levanta e sai vestido de calça de linho branco e nos pés, uma sandália de couro.

Aqueles presentinhos do universo, inesperados.

Carybé: Lanús, 7 de fevereiro de 1911 — Salvador, 2 de outubro de 1997

Esse troço de racismo

É complicado. Dependendo do meu estado de espírito me sinto uma ilustração de Carybé.





Dependendo vou procurar pêlo em ôvo.



Mas quando peguei "aftosa" de um leite muito "bão" tomado numa caneca de alumínio, sentada no muro do curral logo de manhãzinha, há tanto tempo atrás, o que me ajudou a sarar foram as risadas que dei lendo Monteiro Lobato, Dom Quixote.

Abaixo assinado em defesa de Monteiro Lobato

Parte I

Eliana Schuster

Senhor Ministro da Educação Fernando Haddad,

Dispensando formalidades desnecessárias vou direto ao ponto. A Folha de São Paulo publicou em 28/10 uma matéria onde o CNE – Conselho Nacional de Educação – encaminha um parecer para depois de analisado ser homologado ou não, de sua parte. Tal parecer sugere a retirada do livro “Caçadas de Pedrinho” de autoria de Monteiro Lobato da lista de distribuição de livros em escolas públicas para o ano letivo de 2011, justificando ser a obra racista.

Pois bem. Cumpre agora adentrar no cerne da questão em primeiro momento sob a ótica literária e histórica e em segundo momento sob o aspecto jurídico do ato futuro a ser encetado. Certamente este parecer realizado pela Senhora Nilma Lino Gomes, professora da UFMG carece de conteúdo capaz de fundamentar quaisquer atos alheios futuros, serve apenas para induzir em erro pessoas de boa crença e intenção, haja vista o total desconhecimento sobre a grandiosidade da obra de Monteiro Lobato.

Lobato produziu durante toda sua carreira literária 26 títulos destinados ao público infantil, seara a qual se destaca contemporaneamente em liberdade criativa e imaginativa.

Lobato numa época em que as crianças deste país ainda eram tratadas com severidade resgatou e estimulou o onírico infantil com seus escritos, do contrário para que seria editado o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 muitas décadas mais tarde então?

Lobato visionariamente trouxe lirismo a uma realidade crua, perversa e chocante a muitos brasileiros em idade escolar, como ainda hoje diante de tanto desamor e descaso são arremessados pela vida tendo somente a instituição pública como educadora.

Lobato se doou literariamente por compaixão aos pequeninos e por paixão à literatura brasileira.

Lobato ao escrever na obra ameaçada de exclusão “Caçadas de Pedrinho”: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão". (...) "Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens", não faz apologia alguma ao racismo, apresenta um Brasil mais livre de preconceitos e isento de compreensões deformadas e tendenciosas, compreensões estas contemporâneas capazes exclusivamente de promover e fomentar sentimentos de inferioridade. Ele vê as pessoas como iguais, igualdade tão defendida e assegurada em nossa Constituição Cidadã promulgada em 1988 sob a égide de uma Constituinte legítima.

Lobato trabalha com graciosidade seus personagens apresentando ricos desdobramentos, do contrario por quais motivos pessoas se ocupariam em transformar “O Sítio do Pica Pau Amarelo” num seriado de infinitos episódios?

Quem de nós não se recorda das aventuras da Narizinho, das comidas deliciosas da Tia Nastácia ela que cozinhou até para São Jorge na lua, da risada feliz do Tio Barnabé, da sapiência do Visconde de Sabugosa que quase morreu empanturrado de álgebra e ainda assim ensina geografia e geologia, ajudando posteriormente a descobrir petróleo nas terras do sítio. E como ele sabe sobre petróleo... Da teimosia e tagarelice da boneca gente a Emília, das histórias embaladas pela cadeira de balanço da Vovó Benta, ou Dona Benta Encerrabodes de Oliveira, uma grande mestra na geografia, do besouro Mestre Cascudo entendido sobre as questões da terra e já naquela época um bravo defensor ambiental, do Lobisomen e seu folclore assim como o Saci Pererê, do peixe o Príncipe Escamado que ficou noivo da Narizinho e levou a turma para conhecer as maravilhas do fundo do mar, do Quindim um rinoceronte craque na gramática, do Rabicó um porquinho animado que virou Marquês, da Cuca que dormia uma noite a cada sete anos e seus mirabolantes feitiços, de Pedrinho e toda sua coragem...

Lobato, ah Lobato! Lobato foi pai, mãe literato, historiador. Lobato ajudou a história brasileira se situar nos anais da cultura mundial. Não somos um povo sem história como muitos dizem isso não é verdade temos uma bela história contada por uma diversidade infinita de institutos.

Eliminar obra de Lobato da lista de distribuição de livros às escolas da rede pública brasileira é o mesmo que riscar, apagar, expurgar, aniquilar a história de um país, e para, além disso, eliminar definitivamente possibilidades de comparações dos próprios avanços entre décadas é desconsiderar nossa própria história e autoritariamente impedir que novas gerações conheçam este universo encantado, rico e tão festejado de Lobato. Uma alegação de racismo como essa é desprovida de embasamento cultural, social, histórico e humanitário. É uma análise superficial descabida e eivada de subjetividades viciadas, e, por conseguinte, impeditivos categóricos de promover um norte, um parecer e olhar extemporâneo, uma opinião substancial e consistente devido à miopia que a assola.

Rechaçar a distribuição dos livros de Lobato nas escolas da rede pública é o mesmo que, por analogia, apagar a existência e o trabalho de Alberto Santos Dumont o pai da Aviação, assim considerando. Ambos em suas genialidades contribuíram e ainda contribuem enormemente com a nossa sociedade, com a nossa cultura, com as nossas raízes.

Sob o segundo momento, o aspecto jurídico ao qual me referi anteriormente apresento-o agora.

A doutrina mais abalizada no âmbito do pós-moderno Direito Administrativo defende a afetação dos atos discricionários de qualquer funcionário público sob a égide do Poder Judiciário. Diversas jurisprudências, ou julgados sob o tema já se formaram pelos muitos tribunais deste enorme país e todas favoráveis a respeito. É um direto de qualquer cidadão adentrar o certame e questionar esta esfera de discricionariedade - inclusive os atos do Presidente da República - capaz de produzir desconformidade com os interesses e necessidades coletivas. O interesse público não se sobrepõe mais como no passado, na contemporaneidade a sociedade avança substancialmente em defesa da democracia e participação cidadã, como agora faço, por exemplo, ao exercer meu direito de manifestação pela defesa de uma das obras de Monteiro Lobato, o qual nos presenteou com um rico Patrimônio Literário Histórico Cultural.

Por último, rogo ao Ministro como cidadã, apreciadora inveterada do imortal Monteiro Lobato e por último como escritora pela permanência da obra “Caçadas de Pedrinho” na lista de distribuição às escolas da rede pública não somente para 2011, mas para que se perpetue por todos os anos futuros se transformando, por assim dizer num dogma. É o mínimo que podemos fazer como um povo civilizado, culto e de consciência.

Ainda, vale lembrar se acaso a notícia veiculada não reproduzir a verdade dos fatos, sugiro ser enviado pelo Ministro, ou pelo departamento jurídico do Ministério um ofício ao Ministério Público Federal, para que dentro das suas atribuições de Custos Legis atue, investigue, processe e puna os responsáveis obrigando-os inclusive a publicar nota de desagravo na mídia sobre o tema.

Cordialmente,

Eliana Schuster

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7383


Parte II

Foi tópico de sucesso no Twitter: "MEC veta livro de Monteiro Lobato". E centenas de tweets indignados falavam em obscurantismo, babaquice políticamente correta, exagero.

Suspeito que grande parte sequer leu as obras de Lobato; conheceu o gênio pela adaptação do Sítio do Picapau Amarelo na TV. Perderam as delciiosas ilustrações de André Le Blanc, o texto maravilhoso do autor e... seu mórbido racismo. Na adaptação da obra para a TV, caparam o texto de Lobato para eliminar o racismo (e não só isso), e ninguém reclamou.

O que o MEC diz: o livro distribuído tem até um prefácio alertando para as impropriedades ambientais de Pedrinho, mas nada para alertar sobre o racismo. Só deve ir para as escolas se ese tema for tratado com a atenção que merece. Alguém contra isso por aí? Caramba, essa obra é para educar as crianças!

(Vi depois, claro, os críticos de sempre aproveitando o escândalo para apontar "jequice" no governo. É hilariante ver gente citando o Jeca Tatu de Lobato, outro fruto do preconceito do autor. Esse, Lobato corrigiu ainda em vida: num texto posterior ao Urupês, pede desculpas ao jeca, porque seu texto original e preconceituoso o culpava pelo atraso e, depois, o escritor descobnriu que sua aparente indolência era doença, resultado do péssimo sistema de saúde pública)

Do racismo, falei no post anterior. Vamos falar de outra coisa que mencionaram sem ler, o parecer do MEC. Muito lidas foram as matérias de jornal, que simplificaram ao ponto de desfigurar o parecer. Ele recomendou não incluir o livro "Caçadas de Pedrinho" entre as obras distribuídas à rede escolar, ou, distribuindo, acrescentar textos chamando atenção para o racismo embutido no texto, explicável pelas circunstãncias da época em que foi escrito.

Não é um arrazoado medieval o parecer do MEC, pelo contrário. Está repleto de referências elogiosas ao Lobato, e há comentários sobre como não se trata de banir seus livros das bibliotecas. Diz a nota técnica, segundo o parecer do MEC:

"A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da
educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos
históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o
fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na
verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem
os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira,
dentre eles, o negro.
"

Mas tem mais.

O parecer nota, ainda, que a edição bem cuidada do livro incluiu até uma introdução para chamar atenção sobre os avanços da legislação ambiental _ que já não permitiria Pedrinho nem seus fãs sairem caçando animais silvestres por aí. Mas sobre os estereótipos preconceituosos do negro e da África, não há nada. Está no livro:

"Caçadas de Pedrinho teve origem no livro A caçada da onça, escrito em
1924 por Monteiro Lobato. Mais tarde resolveu ampliar a história que
chegou às livrarias em 1933 com o novo nome. Essa grande aventura da
turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os
animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de
extinção, como nos dias de hoje. (p. 19)."

Nota o parecer:

"Todavia, o mesmo cuidado tomado com a inserção de duas notas explicativas e de contextualização da obra não é adotado em relação aos estereótipos raciais presentes na obra, mesmo que estejamos em um contexto no qual têm sido realizados uma série de estudos críticos que analisam o lugar do negro na literatura infantil, sobretudo, na obra de Monteiro Lobato e vivamos um momento de realização de políticas para a Educação das Relações Étnico-Raciais pelo MEC, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação."

Segue o texto:

"Não se pode desconsiderar todo um conjunto de estudos e análises sobre a
representação do negro na literatura infantil (Gouveia, 2005; Lajolo, 1998; Vasconcelos,
1982; entre outros)1, os quais vêm apontando como as obras literárias e seus autores são produtos do seu próprio tempo e, dessa forma, podem apresentar por meio da narrativa, das personagens e das ilustrações representações e ideologias que, se não forem trabalhadas de maneira crítica pela escola e pelas políticas públicas, acabam por reforçar lugares de subalternização do negro.
"

A questão foi levantada por um pesquisador da UnB que trata da temática racista em obras literárias. Não duvido que haja exageros na crítica do pesqusiador; reclamar contra o tratamento dado aos "animais da África" nos textos é ir um pouco além do combate ao racismo. Mas o fato é que há, sim, racismo nas obras de Lobato, e o drama do MEC é como lidar com isso. Não se pode simplesmente derramar o racismo de um fazendeiro paulistano genial dos anos 30 sobre a cabeça das crianças negras, brancas e pardas do século XXI.

Pela lei Afosno Arinos, aliás, se Emília dissesse as barbaridades que diz dos "beiços" e da feiúra de "preta" de tia Nastácia, ela iria para a cadeia de Taubaté com a velocidade de quem cheira pó de pirlimpimpim. (Aliás, o bom senso impediu até hoje que se perseguissem os livros de Lobato como incentivadores do uso da droga. mas ninguém reclamou também que a versão da TV tenha expurgado o pó mágico que dá charme à narrativa lobatiana: não tem crianças cheirando nada para viajar nas Reinações de Narizinho televisivas).

Mais parecer:
"
b) cabe à Coordenação-Geral de Material Didático do MEC cumprir com os critérios
por ela mesma estabelecidos na avaliação dos livros indicados para o PNBE, de que os
mesmos primem pela ausência de preconceitos, estereótipos, não selecionando obras
clássicas ou contemporâneas com tal teor;
c) caso algumas das obras selecionadas pelos especialistas, e que componham o acervo do PNBE, ainda apresentem preconceitos e estereótipos, tais como aqueles que foram denunciados pelo Sr. Antônio Gomes Costa Neto e pela Ouvidoria da SEPPIR, a
Coordenação-Geral de Material Didático e a Secretaria de Educação Básica do MEC deverão exigir da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante.
"

E, ainda:

"A literatura pode ser vista como uma das arenas mais sensíveis para que tomemos providências a fim de superar essa situação. Portanto, concordando com Marisa Lajolo (1998, p. 33) analisar a representação do negro na obra de Monteiro Lobato, além de contribuir para um conhecimento maior deste grande escritor brasileiro, pode renovar os olhares com que se olham os sempre delicados laços que enlaçam literatura e sociedade, história e literatura, literatura e política e similares binômios que tentam dar conta do que, na página literária, fica entre seu aquém e seu além.

Diante do exposto, constata-se a necessidade de formulação de orientações mais
específicas às escolas da Educação Básica e aos sistemas de ensino na implementação da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos."

OK, o texto do MEC mereceria surra com vara de marmelo de tia Nastácia; "olhares com que se olham" e "laços que enlaçam" são de amargar. Mas vejamos o voto da relatora Nilma Lino Gomes:

"Nos termos deste parecer, à vista do disposto no Parecer CNE/CP nº 3/2004 e na
Resolução CNE/CP nº 1/2004, é essencial considerar o papel da escola no processo de
educação e (re)educação das (e para as) relações raciais, a fim de superar o racismo, a
discriminação e o preconceito racial. A despeito do importante caráter literário da obra de Monteiro Lobato, o qual não se pode negar, é necessário considerar que somos sujeitos da nossa própria época, porém, ao mesmo tempo, somos responsáveis pelos desdobramentos e efeitos das opções e orientações políticas, pedagógicas e literárias assumidas no contexto em que vivemos.

Nesse sentido, a literatura em sintonia com o mundo não está fora dos conflitos, das tensões e das hierarquias sociais e raciais nas quais o trato à diversidade se realiza. São situações que estão presentes nos textos literários, pois estes fazem parte da vida real. A ficção não se constrói em um espaço social vazio."

Em resumo, um pesquisador sensibilizado pela luta anti-racista denunciou o livro como contrário ás diretrizes estabelecidas pelos professores para o livro didático, os especialisats do MEC analisaram a denúncia e tiveram de admitir que a obra tem elementos racistas e concluíram que, do jeito que está, não deve constar da lista de distribuição, a menos que tenha uma orientação ao professor e aos pequenos leitores, mostrando que lá em 1933 havia mais racismo no Brasil e que não se deve tomar como padrão de conduta e valor o tipo de referência depreciativa que Lobato faz a negros.

Quem ainda discorda disso, tente, só por alguns minutos, imaginar-se negro, com um filho negro, ouvindo na escola seus herois personagens dizerem que bonito mesmo é só louro de olhos azuis e cabelos cacheados, e que os negros podem até ter uma bela sintonia com a sabedoria popular, mas a ciência está com a branca Dona Benta e seus netos brancos. Ah, e aqueles grossos lábios negros que você tem não são bem lábios, são beiços. Como os do gado.

A leitura de Lobato não fará de ninguém um racista. Mas seu racismo lido sem crítica em sala de aula não seria nada educativo.

(P.S. NO Globo, um "especialista" em Lobato reclama: "na época dele er diferente; estão lendo o Lobato com olhos de 2010". É, compadre, são esses os olhos das crianças que recebem os livros didáticos distribuídos pelo MEC. Abra o seu)

http://verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/10/o-equivocado-ataque-ao-mec-por-causa-do-monteiro-lobato.html

Canoeiro (d. Narcisa)

Passarinho dos pataxó ou Bolodjô para formar a roda do tempo de antes e viver a história

Canoeiro (d. Narcisa)

Domingas olhava o pai garimpando e pensava: ‘um dia dou conta de carregar a bateia pra achar uma pepita enorme!’ Ela sonhava com o dia em que acharia ouro, Não daquele que o pai e a mãe garimpavam o dia inteiro pra entregar ao dono das terras e do rio. Mas ouro que representasse a liberdade de seu povo.

Guaimbê

Espaço Guaimbê, em Pirenópolis, sofre agressão por opção eleitoral

Queridos e queridas de todas as redes

Começo pedindo a bênção a todos os líderes políticos e espirituais que passaram por este planeta antes de nós, Cristo, Budha, Gandhi e Mandela, entre tantos outros

Peço a bênção para compreender o motivo de tanto rancor, tanto desamor...

Estamos chocados aqui em nossa casa em Pirenópolis, interior de Goiás .... acordamos hoje com a varanda suja de ovo.... alguem provavelmente indignado porque no portão de nossa casa tem uma faixa com a propaganda de Dilma, Lula e Íris Rezende e o vencedor de Goiás foi Marconi Perillo....hoje é um ovo.... e amanhã?

Aqui as crianças perguntavam: "pra quem vc torce?" - torcida? Isso é uma partida? O que está em "jogo" é a sustentabilidade e desenvolvimento de uma nação ... estou feliz embora esteja triste, sinceramente triste em perceber que a nossa aldeia está tão dividida, que tantos interesses individuais ainda estão em questão e não falo apenas dos políticos, mas do povo, de nós....não tenho dúvidas de que os políticos são reflexo da nossa gente, são pessoas como nós que se propuseram a assumir o jogo de perto.

Ontem ainda tive a oportunidade de assistir a um programa sobre o Darcy Ribeiro e o sentimento simplesmente se confirmou ... a educação que ele propunha, ele, Anísio e Paulo Freire, a pedagogia da praxis, teoria e prática funcionando juntas e ao mesmo tempo, essa foi sabiamente enterrada pela ditadura e até hoje ninguém conseguiu fazê-la renascer ... a teoria até que avançou um teco assim de nada, mas sem a praxis, é apenas mais uma lei.

Chegamos ao ponto de que se um cidadão expõe publicamente e em paz suas opiniões /vontades é alvo de algum doido insano que tem outra opinião. Isso, está claro, é falta de educação, não é falta de escola, mas de educação mesmo, papel que há muito tempo a escola deixou de cumprir .... conteúdo formal (e questionável) está há léguas de distância de ser educação.

Essa campanha foi muito violenta e estou terrivelmente chocada com isso ... amigos se ironizando e o país? Não pensei em nenhum momento em simplesmente defender um candidato, mas um projeto para a nação e continuo acreditando que foi por isso que tanta gente lutou até hoje antes de mim .... mas no discurso do Serra ele continua falando em luta, em guerra, em armas...

Eu sei que o Brasil é uma peça importante e fundamental para o novo mundo espiritual que está para nascer, sei também que nestes momentos as polaridades se evidenciam, mas meu sentimento de humanidade não consegue deixar de se sentir abalado.

Sou com e pelas energias de amor e consciência que estão disponíveis para nós neste momento. Antes que uns e outros gritem, a consciência a que me refiro é a do amor e não a do intelecto.

Que as luzes do amor guiem nossos passos em direção a todas as mudanças que precisamos realizar!

Daraína Pregnolatto
Diretora Geral /Guaimbê - Espaço e Movimento CriAtivo
Tuxaua de brincadeiras, ritos e redes populares
Coordenadora Ponto e Pontinho de Cultura, Leitura, Estória, Valor, Mídia Livre e Cultura Digital Quintal da Aldeia /Pirenópolis GO
Coordenadora Pontão Ação Griô Guaimbê das Nascentes & Veredas

www.guaimbe.org.br
http://blog.guaimbe.org.br

Zé - o porteiro

A oposição que emerge das eleições

Luis Nassif
01/11/2010 - 08:49

A grande disputa política pós-eleições não será entre PSDB e Dilma. Será, mais ostensivamente, entre José Serra e Aécio Neves pelo espólio do PSDB brasileiro. Mais discretamente, entre Serra e Alckmin, pelo comando do PSDB paulista.

Este é Serra. Seu estilo político, sua compulsão, seu perfil psicológico é o do conflito permanente, da desagregação, do estilo trator. Só que desta vez não terá o respaldo de um cargo relevante nem a perspectiva de uma nova candidatura à presidência, seja pela idade, seja pelas mágoas que construiu ao longo de sua carreira.

Em seu discurso de ontem, Serra tentou preservar um legado político que consiste no seguinte:

A exploração dos temores de uma classe média assustada, similar ao processo que culminou na Marcha da Família no pré-golpe de 1964. Com a diferença que os tempos são outros.Uma estrutura de militância virtual agressiva e sem limites, que ajudou a espalhar infâmias por todo o país.O apoio de comentaristas da velha mídia, que não abandonarão a guerra santa contra Dilma.

É pouco.

No momento esses grupos apoiam Serra por ainda se estar no calor da campanha. Mas, com exceção da mídia, não são forças que possam ser mobilizadas fora do embate eleitoral

A não ser que Serra pretenda ressuscitar os fantasmas do Padre Peyton, de Penna Botto, do IBAD e virar santinho de procissão.

Quando baixar a poeira, os palanques estarão com Alckmin, em São Paulo, com Aécio no Senado, atraindo parcelas relevantes do PSDB não paulista.

É totalmente fora de cogitação que Alckmin sirva de escada para Serra em São Paulo. O apoio de Alckmin visou apenas preservar a unidade do partido, com um ingrediente que tanto Serra quanto FHC nunca praticaram: a lealdade partidária.

Quando assumiu o governo de São Paulo, a primeira atitude de Serra foi varrer de seus cargos todos os seguidores de Alckmin. Nas eleições para prefeito, apoio Gilberto Kassab jogando Alckmin para escanteio.

Alckmin representa muito melhor o eleitorado conservador paulista do que Serra. É conservador por formação; Serra, por conveniência. Tem uma postura pública discreta, sem «forçar a amizade» - estilo que o paulista, por formação, detesta. O Serra que emerge desse campanha, com esse neopopulismo forçado, invadindo casas de pessoas, lendo a Bíblia, é mais falso do que Cds da Santa Ifigênia. Conseguiu o cacife em São Paulo praticando campanha negativa. Muitos votaram contra Dilma; poucos votaram nele. Tem relacionamento ótimo com os prefeitos, ao contrário de Serra que sempre os tratoiu com desprezo. É religioso mas não explora a religiosidade.

Com Alckmin, o paulista conservador depositará seu voto sem torcer o nariz.

No plano nacional, será impensável pensar que Serra conseguirá se impor. É desagregador, não terá plataforma de apoio sequer em São Paulo. Na campanha, não conseguiu criar uma imagem positiva, para se contrapor ao lulismo.

Ainda levará alguns meses até a poeira assentar de vez. Assim que os ecos da batalha estiverem distantes, o PSDB terá duas novas lideranças, ou disputa espaço ou se acertando entre si: Aécio no plano nacional, Alckmin no plano federal.

A Serra e FHC restarão as entrevistas periódicas ou artigos nos jornalões: FHC falando de país, de conceitos, dando o tom; Serra se lamentando e discursando contra a corrupção e a favor de Deus, da pátria e da família.

O dia da estaca

01/11/2010

AYRTON CENTENO em Brasília Confidencial

“Foi como um milagre; diante de nossos próprios olhos, em menos de um segundo, todo o corpo se transformou em pó e desapareceu de nossa vista” (Drácula, de Bram Stoker)

Milhões de brasileiros tomaram este domingo de outubro nas mãos com imenso cuidado. Havia um compromisso. Era preciso devolver as trevas às próprias trevas, o atraso ao atraso, o esgoto ao esgoto, a farsa aos farsantes, o medo ao medo, o ódio aqueles que odiosamente o disseminaram e a hipocrisia de uma campanha aos hipócritas que a conceberam e encenaram. Para depositar o século 13, que recentemente nos visitou, no seu sepulcro de 700 anos. Ao final da tarde, o serviço estava feito e a missão cumprida. Bem antes das 12 badaladas que separam o dia que morre do dia que vai nascer soube-se, afinal, que a escuridão fora tragada pela própria escuridão.

Neste 31 de outubro, ensolarado para uns, sombrio para outros, os eleitores partiram de casa portando duas armas: voto e vontade. Juntas, ambas transformaram-se, diante da urna, em um instrumento de redenção. Mas foram além. Simultaneamente exorcizou-se o regressismo que acenava com um passado recente, mas também remoto graças aos adereços obscurantistas com que desfilou na campanha. A tarefa necessária foi realizada tendo a luz solar como cúmplice pois, como adverte a lenda, é quando o mal dorme na sua tumba. Vontade e voto viraram estaca enfiada à força de martelo no coração da miséria moral que nos assolou.

Quando a madeira rompeu a carne, houve um esgar, o pescoço se retorceu, as mandíbulas avançaram, os caninos se projetaram e as mãos ergueram suas garras além do esquife. Mas era tarde demais.

Morreu, de morte matada, um tipo de fazer política que foge da política para se refugiar na agenda paralela dos temas de convicção religiosa e comportamental, até então ausentes da disputa. Que, sem vigor para andar com as próprias pernas, valeu-se da muleta da religião. Que plantou no ambiente eleitoral o questionamento do Brasil laico, sacramentado em 1899 com o advento da República e da separação entre Estado e Igreja. Que traficou para a campanha um fundamentalismo até então ausente, veículo que carrega consigo a ameaça aos atuais direitos da mulher e tolhe sua luta para alcançar novos direitos como se planteia em qualquer sociedade justa e harmônica. E a negação de plena cidadania aos homossexuais. Distorções destiladas à superfície, mas, sobretudo, nos subterrâneos da infâmia.

Morreu um tipo de vale-tudo que fez do preconceito contra a mulher alavanca de uma retórica assumida no horário eleitoral – a adversária vista como marionete e despreparada – ou muito mais ofensiva, mentirosa e covardemente expelida nas cloacas remuneradas do telemarketing e da internet.

Morreu a pantomima como elemento de campanha. Que levou ao paroxismo a dramatização de um episódio inexpressivo imaginando, afoita e equivocadamente, que o apoio de uma imprensa conivente até a medula seria o bastante para transmutar o pouco em muito, a água em vinho e o fiasco em tragédia.

Morreu um tipo de candidatura e de candidato que escalou seu caráter como mero serviçal de uma ambição sem limites. Que não hesitou diante de nenhum dos abismos que se abriram a sua frente: o do ridículo, o da mentira, o da calúnia, o do horror medieval.

Alguém poderá dizer: mas será mesmo que tudo isso morreu? E terá razão. A morte política, eventualmente, permite ressurreições. Como, durante algum tempo, estratégias canalhas tiveram certo grau de retorno, nada impede que alguém as exume da cripta e as ponha a andar novamente. Ou seja, os tempos que virão não nos dispensam de cautela e, de novo, voto e vontade. Por enquanto, porém, a estaca está cravada e o vento já traz, dos sinos ao longe, o dobre de Finados. O 31 de outubro não sorriu para determinados políticos, projetos e práticas. Mas seu dia já os aguarda. Está chegando o 2 de novembro e a terra os espera. Que descansem em paz. Se puderem.