Domingo estranho... a tarde fui ao ensaio do Coral Lutherking para ensaiar a ópera O Diário de Anne Frank, de Leopoldo Gamberini. Por causa de um bazar que acontecerá esta semana no saguão do auditório, onde ensaiamos domingo passado, foi-nos designado o local onde fica o órgão da Capela Nossa Senhora de Sion, no colégio de mesmo nome.
Subi para o lugar e, lembrando meus tempos de primário e ginásio nesta escola - anos 60 e 70, ao olhar a nave da capela lembrei-me de minha primeira comunhão, celebrada pelo Padre Humberto. Curiosa que sou, ia bater na porta da residência das freiras, quando a mesma se abre e sai uma enfermeira. Pensei que fosse uma residente do pensionato - se é que ainda existe - quando, ao falar com ela, descobri ser a enfermeira do... Padre Humberto. Levou-me até seu apartamento, no mesmo andar e lá estava ele, de costas, sentado em sua cadeira vendo TV. Foi um reencontro emocionante, mas esses detalhes são tão pessoais que não cabe aqui contar.
Contei-lhe do ensaio, do coral, da ópera, de Gamberini, da Fundação Anne Frank, e cantei-lhe um trechinho da Ave Maria de Arcadelt.
Sigo para o ensaio que contava com a presença do regente Martinho Lutero o qual, no final do mesmo, falou sobre a ópera. Gamberini era da resistência na II GM. No pós-guerra, compôs a ópera dedicada a Anne Frank com a colaboração de Otto Frank, pai de Anne. O diário ainda não havia sido publicado, portanto não era uma questão de modismo mas sim de solidariedade não verbal, solidariedade transmitida através da música.
Voltando para casa, fui ler mais sobre a ópera, e na internet encontro a notícia de seu falecimento.
Então, traduzi da Wikipedia italiana o texto a seu respeito.
Depois de ler a postagem, ficou-me a curiosidade se ele conhecia o trabalho de Miguel Nicolelis, se tinha tido a oportunidade de ouvir a tempestade cerebral que Nicolelis gravou em seu laboratório. Espero que sim.
Leopoldo Gamberini (Como, 12 de março – Genova, 22 abril) foi um compositor, maestro, regente de coral, pesquisador científico em biomusica e musicólogo.
Foi um dos pioneiros em musicoterapia, assunto trabalhado por ele desde o primeiro congresso internacional de música e terapia ocorrido em Bologna em 1974, com especial atenção às conexões entre música medicina e cibernética, e em relação especialmente à influência que as frequências sonoras têm sobre as células nervosas e seus tecidos orgânicos.
Franco Abbiati, na sua História da Música (Garzanti, Milano, 1971) o indica como um dos maiores musicólogos do Novecentos.
Diretor musical do grupo vocal e instrumental Os Madrigalistas de Gênova, por ele fundado em 1958, Gamberini – que é laureado em Letras, Filosofia e Medicina – realizou seus estudos musicais no Conservatório de Gênova – sua cidade de adoção – e Torino, especializando-se – além das composições - em pianoforte e violino.
Fez cursos de aperfeiçoamento com o maestro Liebermann e Markevich em Salisburgo (Áustria), e na Academia Chigiana de Siena. Junto a escola de Paleografia Musical em Cremona e no Conservatório Benedetto Marcelo de Veneza aprofundou os próprios estudos em musicologia.
Livre docente em História da Teoria Musical e titular da Cátedra de História da Música na faculdade de Letras – Universidade de Gênova, também ocupou cargos na Faculdade d Magistério na Universidade de Siena.
Gamberini foi fundador do Laboratório de Fonologia na Faculdade de Física da Universidade de Gênova e sócio fundador da Sociedade Italiana de Musicologia, além de membro honorário da Associação “Le Royaume de la Musique” de Paris.
Como compositor, é autor de numerosas músicas de cena para trabalhos teatrais clássicos e modernos, entre os quais um dedicado a Anne Frank, para solo, coro e orquestra e sons eletrônicos. Este trabalho foi apresentado pela primeira vez no Ópera de Estado de Berlim e retomado em 1988 no Auditorium da Radio Televisão de Minsk (Bielorrussia); novamente apresentado no Conservatório Giuseppe Verdi de Milão, aos 12 de março de 2000, quando completava 78 anos.
Sempre como autor, assinou oratórios, sinfonias, música coral e música de câmera. Digna de nota, em particular, a composição – de 1988 – de uma cantata cênica – representada anos depois no Teatro Carlo Felice (Gênova), sob o título: Cristóvão Colombo, 12 de outubro de 1492, escrita para barítono, coro e orquestra. A cantata – realizada com recursos eletrônicos do computador da faculdade de engenharia genovesa, foi retomada, como concerto, para a manifestação colombiana de 1992.
Além do complexo polifônico e instrumental do Madrigal de Gênova – com o qual obteve os mais altos reconhecimentos, entre eles as medalhas de ouro do governo belga -1970 - e do governo francês em 1972 e 1974. Gamberini fundou e dirigiu a Orquestra Johann Christian Bach, com a qual tocou peças de Bach e de autores genoveses cujas partituras não tinham sido , praticamente, nunca publicadas.
Como pesquisador descobriu, estudou e executou músicas gregas antigas, medievais, do Renascimento, além da barroca que representavam o Angelicum e Ars Nova; também desenvolveu em numerosos estudos teóricos o interesse pela música grega, hebraica, gregoriana, até a música contemporânea.
Como o autor de textos didáticos Gamberini publicou designadamente:
um tratado sobre "a palavra e a música na antiguidade
o primeiro italiano tradução com comentário da obra de Plutarco 'music'
parte de "a vida musical em 1800 ".
CComo um testemunho da extrema maleabilidade e atenção que Gamberini dedica ao combinar a música em geral e em particular o antigo com as mais modernas ferramentas fornecidas pela eletrônica, vale a pena relatar sua declaração no Jornal de Música de Torino, em novembro de 1989:
"As gravações de som que podem ser obtidos com o CD são as melhores que um músico pode pedir; mas há nesta perfeição absoluta (o som, assim como o silêncio), algo desumano, melhor, transumano. A imperfeição é parte da nossa vida; por conseguinte, tem o direito à existência mesmo escutando a música".
http://it.wikipedia.org/wiki/Leopoldo_Gamberini
http://www.procembalo.org/composers/view/leopoldo-gamberini/4b785d9c-f7fc-4cca-9d7d-28433e958ca0
http://www.lutherking.art.br/lutherking/lutero.php
http://www.blitzquotidiano.it/musica-showblitz/leopoldo-gamberini-morto-genova-musicologo-1202681/
Subi para o lugar e, lembrando meus tempos de primário e ginásio nesta escola - anos 60 e 70, ao olhar a nave da capela lembrei-me de minha primeira comunhão, celebrada pelo Padre Humberto. Curiosa que sou, ia bater na porta da residência das freiras, quando a mesma se abre e sai uma enfermeira. Pensei que fosse uma residente do pensionato - se é que ainda existe - quando, ao falar com ela, descobri ser a enfermeira do... Padre Humberto. Levou-me até seu apartamento, no mesmo andar e lá estava ele, de costas, sentado em sua cadeira vendo TV. Foi um reencontro emocionante, mas esses detalhes são tão pessoais que não cabe aqui contar.
Contei-lhe do ensaio, do coral, da ópera, de Gamberini, da Fundação Anne Frank, e cantei-lhe um trechinho da Ave Maria de Arcadelt.
Sigo para o ensaio que contava com a presença do regente Martinho Lutero o qual, no final do mesmo, falou sobre a ópera. Gamberini era da resistência na II GM. No pós-guerra, compôs a ópera dedicada a Anne Frank com a colaboração de Otto Frank, pai de Anne. O diário ainda não havia sido publicado, portanto não era uma questão de modismo mas sim de solidariedade não verbal, solidariedade transmitida através da música.
Voltando para casa, fui ler mais sobre a ópera, e na internet encontro a notícia de seu falecimento.
Então, traduzi da Wikipedia italiana o texto a seu respeito.
Depois de ler a postagem, ficou-me a curiosidade se ele conhecia o trabalho de Miguel Nicolelis, se tinha tido a oportunidade de ouvir a tempestade cerebral que Nicolelis gravou em seu laboratório. Espero que sim.
Leopoldo Gamberini (Como, 12 de março – Genova, 22 abril) foi um compositor, maestro, regente de coral, pesquisador científico em biomusica e musicólogo.
Foi um dos pioneiros em musicoterapia, assunto trabalhado por ele desde o primeiro congresso internacional de música e terapia ocorrido em Bologna em 1974, com especial atenção às conexões entre música medicina e cibernética, e em relação especialmente à influência que as frequências sonoras têm sobre as células nervosas e seus tecidos orgânicos.
Franco Abbiati, na sua História da Música (Garzanti, Milano, 1971) o indica como um dos maiores musicólogos do Novecentos.
Diretor musical do grupo vocal e instrumental Os Madrigalistas de Gênova, por ele fundado em 1958, Gamberini – que é laureado em Letras, Filosofia e Medicina – realizou seus estudos musicais no Conservatório de Gênova – sua cidade de adoção – e Torino, especializando-se – além das composições - em pianoforte e violino.
Fez cursos de aperfeiçoamento com o maestro Liebermann e Markevich em Salisburgo (Áustria), e na Academia Chigiana de Siena. Junto a escola de Paleografia Musical em Cremona e no Conservatório Benedetto Marcelo de Veneza aprofundou os próprios estudos em musicologia.
Livre docente em História da Teoria Musical e titular da Cátedra de História da Música na faculdade de Letras – Universidade de Gênova, também ocupou cargos na Faculdade d Magistério na Universidade de Siena.
Gamberini foi fundador do Laboratório de Fonologia na Faculdade de Física da Universidade de Gênova e sócio fundador da Sociedade Italiana de Musicologia, além de membro honorário da Associação “Le Royaume de la Musique” de Paris.
Como compositor, é autor de numerosas músicas de cena para trabalhos teatrais clássicos e modernos, entre os quais um dedicado a Anne Frank, para solo, coro e orquestra e sons eletrônicos. Este trabalho foi apresentado pela primeira vez no Ópera de Estado de Berlim e retomado em 1988 no Auditorium da Radio Televisão de Minsk (Bielorrussia); novamente apresentado no Conservatório Giuseppe Verdi de Milão, aos 12 de março de 2000, quando completava 78 anos.
Sempre como autor, assinou oratórios, sinfonias, música coral e música de câmera. Digna de nota, em particular, a composição – de 1988 – de uma cantata cênica – representada anos depois no Teatro Carlo Felice (Gênova), sob o título: Cristóvão Colombo, 12 de outubro de 1492, escrita para barítono, coro e orquestra. A cantata – realizada com recursos eletrônicos do computador da faculdade de engenharia genovesa, foi retomada, como concerto, para a manifestação colombiana de 1992.
Além do complexo polifônico e instrumental do Madrigal de Gênova – com o qual obteve os mais altos reconhecimentos, entre eles as medalhas de ouro do governo belga -1970 - e do governo francês em 1972 e 1974. Gamberini fundou e dirigiu a Orquestra Johann Christian Bach, com a qual tocou peças de Bach e de autores genoveses cujas partituras não tinham sido , praticamente, nunca publicadas.
Como pesquisador descobriu, estudou e executou músicas gregas antigas, medievais, do Renascimento, além da barroca que representavam o Angelicum e Ars Nova; também desenvolveu em numerosos estudos teóricos o interesse pela música grega, hebraica, gregoriana, até a música contemporânea.
Como o autor de textos didáticos Gamberini publicou designadamente:
um tratado sobre "a palavra e a música na antiguidade
o primeiro italiano tradução com comentário da obra de Plutarco 'music'
parte de "a vida musical em 1800 ".
CComo um testemunho da extrema maleabilidade e atenção que Gamberini dedica ao combinar a música em geral e em particular o antigo com as mais modernas ferramentas fornecidas pela eletrônica, vale a pena relatar sua declaração no Jornal de Música de Torino, em novembro de 1989:
"As gravações de som que podem ser obtidos com o CD são as melhores que um músico pode pedir; mas há nesta perfeição absoluta (o som, assim como o silêncio), algo desumano, melhor, transumano. A imperfeição é parte da nossa vida; por conseguinte, tem o direito à existência mesmo escutando a música".
http://it.wikipedia.org/wiki/Leopoldo_Gamberini
http://www.procembalo.org/composers/view/leopoldo-gamberini/4b785d9c-f7fc-4cca-9d7d-28433e958ca0
http://www.lutherking.art.br/lutherking/lutero.php
http://www.blitzquotidiano.it/musica-showblitz/leopoldo-gamberini-morto-genova-musicologo-1202681/
Nenhum comentário:
Postar um comentário